Por que eu comprei um Renault Twingo?

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Não dá para responder neste espacinho

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Já que o Renato acabou com o “segredo”, me resta confessar: eu realmente comprei um Renault Twingo. Sim, um carro francês minúsculo projetado há mais de 20 anos é uma escolha insólita. Mas, juro: faz muito sentido.

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Lidar diariamente com carros modernos, equipados, tão bons quanto se tivessem acabado de sair da fábrica é minha obrigação. Isso está muito longe de ser algo ruim, mas disfarça o mundo real. O que eu queria era um carro com o mínimo de equipamentos de conforto e capaz de funcionar como um “soco de realidade” após dias dirigindo carros perfeitos.

Onde eu encontraria isso? Nos anos 1990, claro! Com teto de R$ 12 mil, surgia opções óbvias, como Gol, Apollo, Santana 2p, Uno, Palio Weekend Stile, Kadett, Monza, Ka e Escort, e os franceses  306, 106, Clio e Twingo. Os carros mais óbvios são, também, os mais judiados.

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Parece ser algo psicológico: a pessoa compra um carro considerado confiável e o usa sem dó – como a Volkswagen encorajava os donos de Gol a fazer – até quebrar, sem se preocupar com manutenção ou com o acabamento. Já os donos de um carro com má fama ou vitima de preconceito  seguem à risca a manutenção e são cuidadosos para evitar o pior. São donos de 306, 106 e Clio – a maioria Sedan. Mas o Clio 1.0 não me desperta nenhuma emoção e os Peugeot exigiriam uma dose de coragem extra – apesar de serem bons e confortáveis.

Mesmo assim, o bolso coçou para um Ka 1.0 2001 com apenas 23 mil km rodados, um Uno 2002 com 18 mil km e um carro especial: um Monza GLS 2p 1995 azul cezanne e extremamente íntegro, com retrovisor eletrocrômico, antena escamoteável, faróis elétricos, freios a disco nas quatro rodas sem ABS e apenas duas portas. Mas eu teria medo/receio/fobia/temor de usar no dia a dia e estragar o carro.

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Realmente seria legal dirigir um Chevrolet de 20 anos com equipamentos que até hoje são considerados luxo. Mas eu queria algo menor, com um mínimo de conforto –  que Ka e Uno não tinham – e, ainda assim, simples. Foi aí que o Renault Twingo fez muito sentido.

Um Twingo?

Tá aí um carro que sempre admirei. Há mais de um ano cheguei a falar em um grupo de amigos que teria um.  É pequeno, simples, equipado, surpreendentemente espaçoso e com mecânica confiável. Sabendo escolher, claro.

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A seleção começa pelo ano. Entre 1994 e 1998 foi importado da França com um 1.2 8v e em 1999 e 2000, já importado do Uruguai, usou o 1.0 8v compartilhado com o Clio de segunda geração. Peças para estes dois motores já são raridade, mas os Twingo 2001 e 2002 não sofrem com isso: usam o 1.0 16v D4D, o mesmo que foi usado por 206 e March, e hoje mantido em Sandero, Logan e Clio – ainda que flex e com 12cv a mais. No Twingo são apenas 68cv, isso se eles ainda estiverem lá.

Não sei se é um carro ruim de vender, mas é difícil de comprar. Há os em péssimo estado e os bons, cujos donos sequer consideram a possibilidade de vender. É o mesmo mal que aflige quem busca um bom Mercedes Classe A. E não foram muitas as pessoas dispostas a gastar R$ 24 mil em um Twingo entre 2001 e 2002, quando, pelo mesmo preço, poderia comprar um Corsa 1.8. E ainda havia o raríssimo e luxuososo Initiale, por R$ 28 mil.

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A procura já não era pelo carro mais bonito e menos rodado, era pelo mais íntegro e barato. Sem pressa. A falta da antena no retrovisor, peça de acabamento não original, o velocímetro digital que não funciona, os para-choques esbranquiçados e muitos amassados eram eliminatórios. Manutenção em dia contava pontos, claro.

E em meio a oferta de carros prateados, dourados, verdes e azuis, cheguei a um preto metálico 01/02, com 113 mil km, suspensão nova, caixa de direção nova, motor em ordem, todas as notas de serviço desde quando foi comprado e interior em bom estado de conservação (desconsiderando o volante, claro). E com ficha limpa. Era ele, mesmo tendo sido repintado por alguém que teve preguiça de tirar as calhas e o logotipo “16V” dos para-lamas. Em compensação o preço fechado ficou R$ 4 mil abaixo da tabela Fipe.

Trato feito

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Não é o Twingo perfeito, e isso é fato. Começa pela cor preta, rara de tão sem graça nesse carro. Legal mesmo são os Twingo verdes, amarelos, roxos, vermelhos e azuis. A pintura também não é dos melhores, mas uma boa cristalização melhorou o aspecto em 80% e ainda ressuscitou o brilho.

O mecânico de confiança elogiou a compra, mas de cara foi checar a suspensão, rolamentos e homocinética. Na verdade o barulho que ele ouviu com o carro andando vinha dos pneus Triangle, péssimos por sinal. São chineses e nem dá para esconder isso: na banda interna a escrita era em mandarim. Ainda nem haviam chegado na meia vida, mas eram duros e barulhentos como se fossem de plástico. Trocar por pelos Firestone (também 165/70 R13, a R$ 130 cada) transformou o comportamento do Twingo e fez a direção ficar leve como se fosse elétrica.

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Depois voltei à oficina para resolver um pequeno vazamento de água pela válvula termostática (R$ 80, paralela — não se encontra mais a original), e a bomba de gasolina que zumbia parou logo ao sair da oficina (R$ 200, original). Ainda vou rodar pelo menos 2 mil km antes de trocar correia dentada e óleo. Fora isso, o único defeito a resolver é um estalo metálico que acontece em reduções ou acelerações mais agressivas. Desconfio do coxim traseiro do câmbio e do duto de escape.

As calotas originais não encontrei nem mesmo na Argentina e as que vieram nele, do Gol G5, arranquei. Talvez eu coloque as calotas do Clio atual (o primeiro Renault do Twingo com rodas 13″).

Balanço de dois meses

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O Twingo é genial! Tem aproveitamento de espaço interno tão eficiente quanto o de um Honda Fit. A mágica vem do formato de monovolume em miniatura, com as rodas posicionadas bem nas extremidades da carroceria. Não é coincidência: o Twingo e a segunda geração do Espace tem traços assinados por, Patrick Le Quément, diretor de design da Renault até 2009. Ele também é pai Ford Sierra, do Scénic, do Kangoo e até do ousado Avantime.

Outra característica de monovolume é a posição de dirigir alta acompanhada do volante bastante inclinado. Assim, o banco da frente precisa recuar menos para acomodar qualquer um, sobrando espaço atrás. O quadro de instrumentos é digital, no centro do painel. Não é incômodo como em um Etios: as informações são legíveis e a noite a iluminação difusa não cansa a vista. Mas é uma pena não ter conta-giros…

O CD player ainda é original e tem comandos satélite atrás do volante. Há um par de airbags, como num bom Renault do início dos anos 2000, mas o porta-luvas é aberto. Pelo menos puseram uma gavetinha do lado esquerdo do motorista. Outros mimos legais são as regulagens elétricas dos faróis e dos retrovisores, e o vidro elétrico com função um toque — com destaque para os botões na porta e não no console, como era no Clio. Mas a buzina fica na haste atrás do volante e essa é a melhor invenção francesa desde a placa de carro, a bicicleta anfíbia e os patins.

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O banco de trás é tão espaçoso que um adulto de 1,80m consegue cruzar as pernas. E corre sobre trilhos para aumentar o porta-malas, pode ser deitado para transformar o interior em cama ou ser totalmente rebatido. Ah, e além do porta-malas ser iluminado o tampão sai ao abri-la!

No final das contas, consegui um carro pequeno, leve (são  apenas 820kg!), com motor 1.0 16v girador e econômico, câmbio curto de engates macios (muito mais que o dos Renault atuais) e divertido! A integração homem-máquina existe: a direção é mecânica (auxílio elétrico era opcional raro, mas de série no Initiale) e um tanto desmultiplicada, e os freios não são dos mais eficientes (mas dono de Fusca comemora por ter servofreio). Isso sem contar que a suspensão é bastante firme – não há subchassi dianteiro para evitar isso. A posição de dirigir é alta, mas a visibilidade compensa.

Esse Renault Twingo é mais do que um soco de realidade, é a prova de que potência não é fundamental para se ter um carro divertido. É legal, e ainda me faz sentir como se fosse o Sr. Incrível.

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