Por vezes, e não poucas, eu escuto a seguinte declaração: "Se eu tivesse grana mesmo, eu comprava uma F430." Meus pêsames, penso eu. Será que ninguém considera o fato que isso aqui é Brasil? É verde e amarelo, senhores; não tem espaço para o vermelho! Nem perto chegarei de comentar sobre o status que uma Ferrari proporciona. Não vem ao caso. A contradição emerge quando menciona-se dirigir um automóvel imensamente poderoso, veloz e caro por nossas estradas tão bem (in)acabadas.
É contentar-se com o que tem: Touareg, Edge, um Classe M ou um Range Rover, por exemplo. Porque é na terra dos tributos onde implanta-se a ditadura dos SUV`s. Eu já marquei: não conduz-se, na cidade, um automóvel por mais de 20 minutos ininterruptos sem que haja uma lombada, ondulação ou qualquer outra imperfeição própria do asfalto. Agora querem falar de carros rápidos que locomovem-se a, no máximo, um palmo do chão? Eu acho graça. Com um carro desses você ainda corre o risco de não conseguir enfiar em sua garagem. Ele poderá arrastar o fundo do chassi na parte inicial da calçada ou numa ladeira, sabe? Se bem que… Olha que luxo deve ser botar o seu superesportivo para dormir em frente à sua mansão. No sereno. Nas intempéries do tempo. Quanto ‘glamour’.
O discurso poderia enveredar-se por muitos temas revoltosos. Entretanto concentremo-nos na questão: é possível, como brasileiro, trabalhar bastante e ganhar muito dinheiro, escolher uma relíquia de dois lugares para compor o patrimônio e apropriar-se de um desses modelos destruindo-o quase que por completo em um ano de uso? Tem como? Sim é o gabarito! Porque somos brasileiros e não desistimos nunca. Não desistimos de distribuir dinheiro e esforço de trabalho para a colaboração com os exorbitantes IPI e ICMS, por exemplo. Somos um povo unido, afinal.
Entretanto, como típico (e porque não também orgulhoso?) representante dos brasileiros ricos inteligentes: aquele curioso supostamente entendido de carros desregula o sistema de suspensão de sua Ferrari F430 no primeiro ano de uso rodando em terras tupiniquins. Sem problemas. No ano seguinte ele já troca por uma Lambo LP700-4. Superação para fazer tempo. Sangue automobilístico. É nosso dever, como amantes do automóvel, aferir até onde marca na reta das medidas as máquinas mais injuriadas de zero a doze meses. Não existe espanto. Nós já sabíamos desde o primeiro título mundial de futebol de 58 que éramos mesmo competitivos assim. Por Thiago A. Ramos
Eu não teria uma Ferrari, não no Brasil
- Henrique Rodriguez
- 23/12/2012
- 15:01
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