O carro popular nasceu em meados dos anos 90 para ser… popular. Só que a recente escalada de preços do setor automotivo fez com que até os veículos de entrada passassem da casa dos R$ 60 mil.
Longe de ser barato, esse valor virou o novo degrau de acesso para o mundo dos carros 0km. Se serve de consolo, um dos modelos mais interessantes desse pequeno grupo é o novo Citroën C3. Lançado em agosto, o modelo figura entre os carros mais baratos do país. Por R$ 69.990 na versão Live, ele traz uma lista de equipamentos interessante diante da concorrência, além de um design bastante moderno e outros atributos.
A Citroën do Brasil gentilmente cedeu ao Primeira Marcha a versão Live Pack durante uma semana, e podemos afirmar que esta é a melhor versão do novo C3 1.0. Descubra os motivos a seguir.
Bonito de ver
Beleza é subjetiva, mas admita que o novo C3 é um carro interessante. As linhas modernas seguem a identidade visual da marca e remetem ao C4 Cactus, o único automóvel de passeio vendido pela marca no país até a estreia do próprio C3. Mas os designers deram bons toques de modernidade ao projeto de origem indiana, que recebeu diversas modificações para atender ao gosto do consumidor sul-americano – e especialmente o do Brasil.
Estiloso, o conjunto óptico dividido em duas seções replica a tendência global de design presente em todos os segmentos. Elaborado, ele separa as luzes diurnas na parte superior e os faróis halógenos na seção de baixo. Existe uma integração visual com o desenho da grade frontal, que é marcada pelo inconfundível logotipo da Citroën conhecido como ‘duplo chevron’.
Logo acima, a profusão de vincos espalhados pelo capô faz com que o C3 tenha porte mais robusto e até pareça um SUV, embora a própria fabricante prefira não associá-lo a essa categoria – evitando repetir o erro que a Renault cometeu ao fazê-lo com o Kwid. Em vez disso, a Citroën diz que o C3 1.0 tem ‘atitude SUV’, um discurso de marketing que faz mais sentido pelas características como a suspensão mais alta e a posição de dirigir bastante elevada – vamos falar disso mais adiante.
Interessante observar como o C3 parece mais alto com seus 1,60 metro – apenas 3 cm a menos do que um Hyundai Creta, por exemplo. A largura de 1,73 metro também garante uma vida confortável para os passageiros. Atrás, as lanternas grandes também tentam transmitir robustez. No geral, o visual agrada bastante pela harmonia.
Só que alguns detalhes da versão Live Pack nos lembram que estamos diante de um modelo de entrada. As calotas (que são bonitas) cobrem as rodas de aço de 15 polegadas, enquanto maçanetas externas e capas dos espelhos retrovisores não são pintadas na cor da carroceria. Se nada disso te incomoda, vá em frente.
A boa notícia é que o desempenho também merece elogios, como você verá a seguir.
Bom de guiar e econômico
Foi a Fiat quem lançou o conhecido motor Firefly de três cilindros em linha. Com a criação do grupo Stellantis, o conjunto utilizado no Fiat Argo também equipa o Peugeot 208 e agora está no Citroën C3. São 74 cv com etanol e 71 cv quando abastecido com gasolina, entregando torque máximo de 10,7 kgfm com o combustível etílico no tanque.
Independente do combustível escolhido, o conjunto possui boas respostas em baixas rotações e não decepciona em velocidades mais altas. Além disso, o C3 1.0 entrega ótimas médias de consumo de combustível. Durante nossa avaliação, conseguimos fazer mais de 10 km/l na cidade e chegamos próximos dos 11,5 km/l na estrada com etanol.
Cabe aqui uma observação: este foi o meu segundo contato com um C3 1.0. No primeiro deles, que coincidentemente teve um trajeto quase idêntico ao percorrido nesta avaliação, a média de consumo foi ainda melhor: 17,5 km/l com gasolina. São números elogiáveis, principalmente considerando que as médias informadas pelo Inmetro são de XX,X km/l e XX,X km/l.
Apesar dos bons resultados obtidos, cabe lembrar o óbvio: a economia de combustível é proporcional ao seu estilo de condução. Ou seja, de nada adianta pisar demais esperando por médias igualmente baixas.
Painel simples e muito espaço
Ciente de que a economia de custos era essencial para o sucesso do novo C3, a Citroën fez algumas concessões na cabine do novo C3. Isso fica evidente na qualidade dos materiais, que incluem bastante plástico duro – como em qualquer carro popular, é bom frisar.
Olhando de perto, porém, nota-se uma preocupação com o estilo. Além do desenho futurista das saídas de ar-condicionado laterais, a cabine usa texturas e cores diferentes para esconder um pouco da simplicidade do acabamento. O visual é bastante moderno e a ergonomia é um ponto forte, com todos os comandos ao alcance das mãos e facilmente localizáveis.
Mas nem tudo são flores: o painel de instrumentos peca por ser simples demais. Além do aspecto pobre, há apenas velocímetro digital monocromático e os indicadores de nível de combustível e temperatura do motor. Não existe conta-giros, nem na versão topo de gama com motor 1.6 16V.
Impressiona, em compensação, o amplo espaço interno. Quem viaja no banco de trás senta em posição mais alta, mas nem assim corre o risco de raspar a cabeça no teto. Agradeça à altura de 1,60 metro e à ótima distância entre eixos de 2,54 metros, que garante vida confortável para dois adultos e espaço razoável para três passageiros – algo quase impossível de ser encontrado no segmento de hatches compactos.
Generosa também é a capacidade volumétrica do porta-malas. São 315 litros declarados, fazendo do C3 o modelo com o maior compartimento de bagagens da categoria. Para efeito de comparação, um Jeep Renegade acomoda 320 litros, e é um veículo bem maior do que o C3.
O motorista, por sua vez, encontra uma posição de dirigir bastante alta. Segundo a Citroën, ela chega a ser até 10 cm mais elevada em comparação a alguns concorrentes diretos, como o Hyundai HB20. Se inicialmente a sensação é de estranheza, logo o condutor se acostuma e até gosta de ver o mundo lá de cima. Essa característica é apreciada em viagens longas, uma vez que a posição dos pedais também favorece uma condução mais confortável. No período em que avaliei o C3 1.0, realizei três viagens longas e em nenhuma delas senti desconforto ao chegar no destino.
O que tem no C3 1.0?
Vamos pensar que dificilmente alguém comprará um C3 1.0 ‘peladão’. É por isso que, apesar de não ser a mais básica e nem a mais barata da gama, a versão Live Pack é bastante atraente. Por R$ 78.990, ele tem uma lista de equipamentos bem interessante.
O C3 sai de fábrica com ar-condicionado, direção elétrica, sensor de pressão dos pneus, indicador de trocas de marcha, luzes de iluminação diurna e computador de bordo.
Um item bastante interessante é a central multimídia Citroën Connect Media com tela tátil de 10 polegadas e suporte a Android Auto e Apple CarPlay sem necessidade de fios. Com navegação muito intuitiva, ela traz todos os recursos que o cliente espera de um sistema básico de entretenimento.
Mesmo quem não liga tanto para conectividade vai apreciar a presença das duas entradas USB na frente, sendo uma delas para carregamento de dispositivos móveis. Travamento central das portas, chave com telecomandos e banco do motorista com regulagem de altura também são oferecidos na versão Live Pack.
Um ponto negativo é a oferta de apenas o airbag duplo frontal obrigatório por lei. É bom lembrar que carros mais baratos, como o Renault Kwid, saem de fábrica com quatro airbags. E ainda há outros modelos um pouco mais caros que oferecem seis bolsas infláveis.
De toda maneira, o C3 Live Pack 1.0 surge como uma opção bastante interessante no seu segmento. Bonito, espaçoso e bem equipado, o compacto da Citroën é um excelente companheiro.
Além disso, o desempenho bastante competente do motor 1.0 Firefly faz com que o C3 seja um dos carros mais gostosos de dirigir da categoria. E é importante lembrar das ótimas médias de consumo de combustível.
Rodar com o C3 1.0 é uma boa experiência, especialmente para quem utilizará o carro na maior parte do tempo na cidade. Se esse é o seu caso, vale a pena considerá-lo na hora de decidir a compra.